Voo noturno
quinta-feira, março 14, 2024
Cerimônia do adeus- minha mãe, Léa Diz
terça-feira, maio 09, 2023
Santa Rita Lee- nossa roqueira mor
Rita Lee com certeza está no paraíso que escolheu.
Havia pureza na irreverência de nossa roqueira mor,
muito amor e certa fragilidade.
Sempre a vi mãezona, amante do marido, defensora dos animais.
domingo, abril 23, 2023
Contardo Calligaris e eu- crônica
sábado, abril 22, 2023
Nossas escolhas- reflexão
Nossas escolhas- reflexão
"A vida devia ser como no teatro, primeiro se ensaia, depois se estreia-vive." A frase do Vittorio Gassman ecoou entre amigos, mobilizou alguns. Por que, olhando para trás, percebemos que fizemos escolhas erradas? Não esqueço a frase de uma amiga quando falamos sobre isso:Eu os tive aos 41 e 43 anos- parto normal, mocinhas! Realmente não queria filhos antes, quando o sininho soou avisando que era agora ou nunca, eu os desejei muito. Acredito que o que me levou a essa decisão foi estar em análise com uma Sra., Nilza Rocha, que questionou o desejo de não querer filhos. Aí veio uma longa história, bastante sofrida da minha relação com minha mãe desde os meus 7 anos. Não vou contar, é muito íntimo. Mas eu não me sentia merecedora de ter filhos, algo para sempre, imagino. E sou uma mãe excelente, inclusive alguns amigos deles também me chamam de mãe, não daquela que vai para a cozinha- não é minha praia, mas a que observa olhos tristes, percebe quando algo não está bem e comemora as alegrias deles todos.
PS: Na verdade, eu já havia saído de Ipanema e estava vivendo entre Rio e Cabo Frio- fiquei uns 8 anos viajando todas as semanas, trabalhava nos dois lugares. Por ter saído do Rio e permanecer mais em Cabo Frio, as colegas psis deixaram de me indicar clientes- ainda não havia o Doctoralia, site que me salvou. Aliás, essas amigas me abandonaram completamente- é uma luto que carrego até hoje, inexplicável para mim a razão da distância e do afeto, pois tenho amigos mais distantes e que nunca me abandonaram. Ah! Eu tentei viu?? Desisti. Alguns cariocas são assim:: amigos de praia, de curso, de um certo tempo de vida, depois... "C'est la vie".
#memóriasafetivas #reflexao #vida #amigos #família #filhos #maturidade #escolhas #crônicas
sexta-feira, abril 21, 2023
Como era charmoso o meu francês-crônica
quinta-feira, abril 20, 2023
Meus amores impossíveis- lembranças
Há homens que admiramos a ponto de amá-los. Eu amaria muitos- sou múltipla, Drummond já escreveu sobre isso numa crônica que fez para mim, disse que meu coração era imobiliário. Não foi um elogio, mas eu entendi o despeito e ciúme do poeta- então encantado por mim.
Poema de José Geraldo Pimenta- soneto
Esse lindo poema é de uma amigo querido que morreu antes dos 30 anos com doença de Chagas
domingo, abril 16, 2023
Amor fulminante- miniconto
Amor fulminante
Viu os olhos dele a fulminarem quando disse:
-Não mudo uma vírgula na minha vida por você.
Lança afiada no coração. Por uns segundos, pensou como viveria sem ele.
Mas o amor dela é tanto que supre o dele. "Homem maduro, coração duro".
Foi até a cozinha. Fez o café como ele gosta- quase amargo. Ao oferecer a xícara seus olhos eram frios. Deixou que tomasse o café, aproximou-se. Beijou seus lábios até adocicarem e ele a tomar nos braços.
Ela o amaria mais densa que nunca- teve os segundos de luto - beijaria aquele corpo religiosamente até ele lhe oferecer o gozo em jorros e entrega.
Lavou o sexo com força.
Depois, na praia, se jogou na areia molhada. Pensava: se o mar me quiser, que leve.
A maré rasa não a carregou.
Levantou quando ouviu vozes de crianças em volta.
Foi seu ultimo carnaval.
Sábado no ônibus- miniconto
Sábado no ônibus
Entrei no ônibus com dificuldade, o motorista me olhou enviesado.
Não havia onde sentar, a mão engessada doía, o braço onde fui furado, doía. Era preciso me equilibrar na barra.
Senti o olhar de uma mulher. Senti vergonha, queria me esconder. Todos fingiam não me ver, exceto a mulher que olhava discretamente. Ouve um momento que senti que ela ia levantar e me dar o lugar. Podia ser minha mãe, talvez me visse como filho, talvez me visse através daquela roupa suja de sangue que fedia.
Ela não levantou, ainda bem, eu sentiria mais vergonha.
sábado, abril 15, 2023
Conto Hoje de Madrugada- Raduan Nassar
Hoje de Madrugada
Raduan Nassar
O que registro agora aconteceu hoje de madrugada quando a porta do meu quarto de trabalho se abriu mansamente, sem que eu notasse. Ergui um instante os olhos da mesa e encontrei os olhos perdidos da minha mulher. Descalça, entrava aqui feito ladrão. Adivinhei logo seu corpo obsceno debaixo da camisola, assim como a tensão escondida na moleza daqueles seus braços, enérgicos em outros tempos. Assim que entrou, ficou espremida ali ao canto; me olhando. Ela não dizia nada, eu não dizia nada. Senti num momento que minha mulher mal sustentava a cabeça sob o peso de coisas tão misturadas, ela pensando inclusive que .me atrapalhava nessa hora absurda em que raramente trabalho, eu que não trabalhava. Cheguei a pensar que dessa vez ela fosse desabar, mas continuei sem dizer nada, mesmo sabendo que qualquer palavra desprezível poderia quem sabe tranquilizá-la. De olhos sempre baixos, passei a rabiscar ao verso de uma folha usada, e continuamos os dois quietos: ela acuada ali no canto, os olhos em cima de mim; eu aqui na mesa, meus olhas em cima do papel que eu rabiscava. De permeio, um e outro estalido na madeira do assoalho. Não me mexi na cadeira quando percebi que minha mulher abandonava o seu canto, não ergui os olhos quando vi sua mão apanhar o bloco de rascunho que tenho entre meus papéis. Foi uma caligrafia rápida e nervosa; foi uma frase curta que ela escreveu, me empurrando o bloco todo, sem destacar a folha, para o foco dos meus olhos: "vim em busca de amor" estava escrito, e em cada letra era fácil de ouvir o grito de socorro. Não disse nada, não fiz um movimento, continuei com os olhos pregados na mesa. ?Mas logo pude ver sua mão pegar de novo o bloco e quase em seguida me devolvê-lo aos olhos: "responda" ela tinha escrito mais embaixo numa letra desesperada, era um gemido. Fiquei um tempo sem me mexer, mesmo sabendo que ela sofria, que pedia em súplica, que mendigava afeto. Tentei arrumar (foi um esforço) sua imagem remota, iluminada; provocadoramente altiva, e que agora expunha a nuca a um golpe de misericórdia. E ali, do outro lado da mesa, minha mulher apertava as mãos, e esperava. Interrompi o rabisco e escrevi sem pressa: "não tenho afeto para dar", não cuidando sequer de lhe empurrar o bloco de volta, mas nem foi preciso, sua mão, com a avidez de um bico, se lançou sobre o grão amargo que eu, num desperdício, deixei escapar entre meus dedos. Mantive os olhos baixos, enquanto ela deitava o bloco na mesa com calma e zelo surpreendentes, era assim talvez que ela pensava refazer-se do seu ímpeto. Não demorou, minha mulher deu a volta na mesa e logo senti sua sombra atrás da cadeira, e suas unhas no dorso do meu pescoço, me roçando as orelhas de passagem, raspando o meu couro, seus dedos trêmulos me entrando pelos cabelos desde a nuca. Sem me virar, subi o braço, fechei minha mão ao alto, retirando sua mão dali como se retirasse um objeto corrompido, mas de repente frio, perdido entre meus cabelos. Desci lentamente nossas mãos até onde chegava o comprimento do seu braço, e foi nessa altura que eu, num gesto claro, abandonei sua mão no ar. A sombra atrás de mim se deslocou, o pano da camisola esboçou um voo largo, foi num só lance para a janela, tinha até verdade naquela ponta de teatralidade. Mas as venezianas estavam fechadas, ela não tinha o que ver, nem mesmo através das frinchas, a madrugada lá fora ainda ressonava. Espreitei um instante: minha mulher estava de costas, a mão suspensa na boca, mordia os dedos. Quando ela veio da janela, ficando de novo à minha frente, do outro lado da mesa, não me surpreendi com o laço desfeito do decote, nem com os seios flácidos tristemente expostos, e nem com o traço de demência lhe pervertendo a cara. Retomei o rabisco enquanto ela espalmava as mãos na superfície, e, debaixo da mesa, onde eu tinha os pés descalços na travessa, tampouco me surpreendi com a artimanha do seu pé, tocando com as pontas dos dedos a sola do meu, sondando clandestino minha pele no subsolo. Mais seguro, próspero, devasso, seu pé logo se perdeu sob o pano do meu pijama, se esfregando na densidade dos meus pelos, subindo afoito, me lambendo a perna feito uma chama. Fiz a tentativa com vagar, seu pé de início se atracou voluntarioso na barra, e brigava, resistia, mas sem pressa me desembaracei dele, recolhendo meus próprios pés que cruzei sob a cadeira. Voltei a erguer os olhos, sua postura, ainda que eloquente, era de pedra: a cabeça jogada em arremesso para trás, os cabelos escorridos sem tocar as costas, os olhos cerrados; dois frisos úmidos e brilhantes contornando o arco das pálpebras; a boca escancarada, e eu não minto quando digo que não eram os lábios descorados, mas seus dentes é que tremiam. Numa arrancada súbita, ela se deslocou quase solene em direção à porta; logo freando porém o passo. E parou. Fazemos muitas paradas na vida, mas supondo-se que aquela não fosse uma parada qualquer, não seria fácil descobrir o que teria interrompido o seu andar. Pode ser simplesmente que ela se remetesse então a uma tarefa trivial a ser cumprida quando o dia clareasse. Ou pode ser também que ela não entendesse a progressiva escuridão que se instalava para sempre em sua memória. Não importa que fosse por esse ou aquele motivo, só sei que, passado o instante de suposta reflexão minha mulher, os ombros caídos, deixou o quarto feito sonâmbula.
O texto acima foi extraído dos "Cadernos de Literatura Brasileira", Instituto Moreira Salles - Rio de Janeiro, exemplar número 2 de setembro de 1996, pág. 56.
Soneto- Poema de Pim
Soneto
José Geraldo Pimenta
Não me dê muita força
às pobres asas
para que o sol danado
acabe derretendo.
Não me dê muito apego
aos pés vadios
para que um caminho novo
me carregue a labirintos.
Não me dê muito afeto:
sou dos que se entregam
por um preço baixo.
Não me dê muita luz:
sou dos que se batem
como uma borboleta em frente à lâmpada.
Se não falas
Se não falas.
RABINDRANATH TAGORE
Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e agüentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.
A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.
Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta.
sexta-feira, abril 14, 2023
O dia em que meu filho me fez chorar- crônica 2010